Olá tripulante, bem vindo a bordo! Meu nome é Felipe Ferraz e desde que me conheço por gente sempre gostei do mar. Quando eu tinha apenas 3 anos de idade minha família começou a frequentar as praias de Ubatuba, no litoral norte do estado de São Paulo. Não demorou muito e nossa paixão pelo mar cresceu tanto que meu pai comprou uma pequena lancha de 19 pés e com ela começamos a explorar  a maravilhosa costa de Ubatuba e nunca mais paramos. Passávamos todos os finais de semana, feriados e férias escolares por lá, levando a guerreira lanchinha para desbravar as ilhas e praias ubatubenses. Já nessa época eu sentia que aquele era meu habitat, e era no mar que eu queria passar cada vez mais tempo.

Comecei a pilotar a lanchinha desde muito criança, obviamente sempre com a supervisão do meu pai, mas chegou uma época que eu já estava tão acostumado e bom naquilo que meu pai nem ligava mais, eu era o comandante da lancha!! Aquilo me fascinava demais, principalmente toda a parte operacional da navegação, e como isso foi no início dos anos 90, ainda não havia GPS nos barcos menores, então já ali comecei a ter contato com cartas náuticas e aprender a traçar rumos, fazer navegação costeira, estimada, etc… aquilo era um paraíso para a cabecinha fértil e acelerada do pequeno adolescente Felipe!

Mais ou menos quando eu tinha uns 14 anos li pela primeira vez o livro Paratii: Entre Dois Pólos do Amyr Klink e comecei a me apaixonar pela cultura da vela e por histórias de grandes navegações oceânicas. Li também o primeiro livro do Amyr, Cem Dias Entre Céu e Mar, que apesar de não ser sobre veleiro, também ajudou a me deixar mais intrigado ainda… como podia esse cara conseguir ficar dias, semanas, meses no mar, completamente sozinho, e assim cruzar oceanos e mudar de continente!? Comprei mais um livro do Amyr, As Janelas do Paratii, esse só de fotos, e daí comecei a procurar outros livros sobre viagens com veleiros, precisava saber mais sobre aquele mundo. Foi aí que achei em uma feira de livros na minha escola, o livro que hoje vejo que é a Bíblia do velejador de cruzeiro brasileiro: Aventuras no Mar, de Hélio Setti Jr.

Aventuras no Mar, andanças, amores e peripécias de um velejador boa praça. O livro de Hélio Setti Jr. que mudou minha vida.

Aquele livro realmente me fascinou de vez. Contava a história de um cara simples e gente fina, que velejou por mais de 4 anos ao redor do mundo da maneira mais “boa praça” e sem pressa possível, ficavam meses parados em locais que gostassem muito, ou onde arrumassem comida e bebida baratas, ou onde as mulheres fossem mais bonitas, vagabundeando com seu veleiro chamado, apropriadamente, Vagabundo! Tudo contado de maneira deliciosa por Hélio, que era um legítimo contador de histórias. Desde aquele dia já devo ter lido esse livro pelo menos umas cinco vezes e cada vez que leio de novo a sensação final é sempre a mesma: QUERO FAZER A MESMA COISA QUE ESSE CARA!!!! E essa obsessão mora comigo desde essa época… tornou-se o grande sonho da minha vida velejar vagabundeando pelo mundo!

Comecei então a procurar maneiras de aprender a velejar, e nada melhor que na prática, não é mesmo? Achamos um veleiro da classe Laser a venda em Ubatuba e meu pai, sempre me dando muito apoio em minhas buscas, comprou pra mim! Que alegria, que maravilha, um barquinho só meu? E que veleja de verdade, se move apenas com a força do vento, sem barulho de motor, sem fumaça!! Era um sonho realizado… saía sozinho do Saco da Ribeira dando bordos em meio aos veleiros grandes e velejava até a praia do Flamengo, menos de 1 milha de distância… pra mim parecia uma travessia oceânica, eu me realizava todo! Foram anos treinando com o laserzinho sempre que possível, enquanto o pessoal queria sair de lancha pra mais longe, eu queria mesmo era ficar por ali velejando.

Velejando com meu laser na Praia do Flamengo, Ubatuba, por volta de 1998.

Mas como acontece com todo adolescente, nessa idade de mais ou menos 15 anos comecei a ter outros interesses que tomavam meus finais de semana, e o veleirinho foi ficando cada vez mais abandonado, até ser esquecido por completo e guardado em um galpão onde ficou por mais de 10 anos! Porém nesse meio tempo não abandonei minha paixão pelo mar e pelos veleiros, pelo contrário, fui lendo cada vez mais livros sobre vela e ainda frequentava sempre Ubatuba e comecei a tentar conhecer veleiros oceânicos sempre que tinha uma oportunidade. Ficava impressionado com o espaço que tinham internamente, como eram pequenas casas flutuantes e que velejam! O sonho continuava vivo e a meta de vida ainda era a mesma.

A vida foi mudando cada vez mais… mudei de cidade, fiz faculdade, casei, tive um filho, tudo acontecendo muito rápido, o sonho de velejar o mundo ainda persistia, mas parecia uma coisa distante, talvez para quando me aposenta-se? Em 2008 passei pelo momento mais difícil da minha vida, o falecimento de minha mãe. Isso me fez pensar muito sobre como nossa vida é efêmera, minha mãe morreu com apenas 47 anos de idade! Caraca, preciso me mexer logo, meu sonho pode não ter tempo de esperar…. em 2012 uma situação parecida aconteceu com um grande amigo da época da faculdade, perdeu a irmã também muito jovem e estava nesse mesmo questionamento, de que valem nossos planos e sonhos se não os buscarmos com objetividade? E se for tarde demais? Pois bem, emprestei pra ele o livro do Hélio e falei, “vai lá, leia e veja se não é essa a vida que você quer levar!”. Não deu outra, em menos de 15 dias ele terminou o livro e estava obcecado pela ideia de velejar pelo mundo! Oh livrinho forte esse!!!

Conversamos muito e chegamos a conclusão de que, sendo grandes amigos-irmãos com objetivos parecidos e morando perto, com uma pouca grana que cada um tinha guardado, poderíamos comprar um barco em sociedade, e assim almejar barcos muito maiores e mais confortáveis do que aguentaríamos pagar e manter se cada um comprasse o seu. Começamos a procurar barcos na faixa de 30 a 36 pés, procuramos um pouco mas não demorou muito e encontramos um Velamar 34 chamado BELEZA PURA, um belo barco que estava um pouco derrubado, carente de novos donos que quisessem deixá-lo tinindo e pronto pra singrar os mares novamente. Foi amor a primeira vista. Em pouco tempo, éramos os novos comandantes do Beleza Pura!

Saímos velejando por Ubatuba e eventualmente arriscando algumas viagens mais longas como Paraty ou Ilhabela, fizemos alguns cursos para aprimorar nossas técnicas e aos poucos fomos melhorando o barco. Aprendemos e curtimos muito juntos, mas em 2016 o Eduardo foi buscar novos projetos e decidiu vender a parte dele do barco para mim. E assim eu e minha família ficamos com a nossa casinha flutuante só pra gente!

Você percebeu que nessa minha história existem vários personagens incentivadores? Meu objetivo com os passeios que ofereço com o Beleza Pura é exatamente esse, o de ser um incentivador e inspirar meus clientes a viverem essa filosofia de vida da vela! O que mais curto é falar sobre veleiros, travessias, histórias do mundo da vela. Então vem velejar e bater papo comigo a bordo, seja bem vindo ao Beleza Pura!

Bons ventos!