By 17th dezembro, 2018 Travessias No Comments

Angra – Ilha Grande – Paraty – Ubatuba (04 a 08/01/2016)

  • Milhas percorridas: 100
  • Embarcação: Beleza Pura – Velamar 34
  • Tripulação: Felipe Ferraz e Elaine Ferraz

Relato

Como relatado nesse post aqui, havíamos levado o barco pra Angra, com intuito de voltar em Janeiro pra um pequeno cruzeiro pela região, e foi exatamente o que fiz. Cheguei no cais da Via Marina na manhã do dia 04/01/2016 juntamente com minha esposa Elaine que pela primeira vez seria minha companheira em uma velejada mais longa, com travessia e tudo mais, e sem as crianças, um cruzeiro romântico! Arrumamos toda a tralha no barco, preparamos tudo e zarpamos na tarde daquele mesmo dia, com destino à Praia da Tapera, na Enseada do Sítio Forte em Ilha Grande, uma navegada de aproximadamente 18 milhas pela frente.

Aqui deixo um importante conselho, pra você meu amigo leitor que esteja pensando em começar o processo de “marinização” de sua companheira (ou, por que não, pra você também, leitora querendo marinizar o companheiro!!). Nas primeiras vezes, seja exageradamente cauteloso!! Não seja ansioso, e não tenha pressa, pois o processo é longo, de qualquer maneira, e a pressa e a ansiedade na vela oceânica, quase SEMPRE levam a situações de stress desnecessário!

Digo isso, pois naquela tarde eu vi muito bem que estava se formando aquelas nuvens bem características daquelas trovoadas de verão, que sempre trazem vento forte e relâmpagos. Como já passava das 16h quando estávamos realmente prontos pra zarpar, eu deveria ter ficado ali mesmo pela marina, curtindo a tarde de chuva a bordo e deixado para sair na manhã do dia seguinte. Porém, minha ansiedade em começar logo o cruzeiro, e a pressa em estar na Tapera já na outra manhã, me fizeram decidir por sair naquele momento mesmo… com a tempestade vindo bem pro nosso lado.

Pois bem, óbvio que fomos pegos pelas nuvens, e já próximo a Ilha da Gipoia eu motorava contra um vento de 25 nós, com muita chuva e raios pra todo lado! A Elaine se aninhou na cabine e acompanhava tudo pelo dog house, bem apreensiva, mas até então estava tudo sob meu controle… a navegada estava sendo desconfortável, molhada e chata, mas tava tudo ok! A pior consequência do meu erro veio depois. Quando chegamos ao Sítio Forte já estava escuro, e o vento não dava trégua, se mantendo sempre acima de 20 nós. A ancoragem no Sítio Forte não é das mais fáceis, é um local muito profundo e cheio de poitas, deixando pouco espaço pra quem vai ficar na âncora, e os locais com profundidade pequena são rapidamente preenchidos em dias de verão. Além disso, nesses dias de tempestade tem um lugar lá onde o vento faz a curva num morro e vem mais forte ainda! Resultado, sobrou pra mim a bacana tarefa de ancorar sozinho, com vento de mais de 30 nós, no breu da noite, com vários barcos por perto e sem conhecer bem o local (só tinha estado uma vez lá com o André Homem de Mello em 2013). Tudo isso, sob os olhares desconfiados e assustados de minha companheira! Que belíssima cagada! Até que acabou sendo tranquilo… ancorei uma vez, reparei que a âncora não estava segurando e estávamos arrastando. Pedi ajuda pra Elaine, apenas pra manter o motor engatado e seguir minhas direções pra ajudar a tirar a âncora. Deu certo, subi a âncora e joguei novamente, agora em um lugar um pouco mais raso e com bastaaaaaante filame. O barco ficou seguro… e é lógico que, pelas leis de Murphy, o vento absurdo e a chuva torrencial pararam alguns poucos minutos depois desse sofrimento todo! Hehehe. Curtimos nossa primeira noite a bordo descansando desse pequeno perrengue, dormindo sob a luz do luar no cockpit.

No dia seguinte, compensamos todas as calorias perdidas no perrengue com um maravilhoso almoço no restaurante Recanto dos Maia, do já famoso casal Nalde e Telma, que sempre recepcionam muito bem os velejadores. Na parte da tarde velejamos até o Saco do Céu, uma das melhores ancoragens da Ilha Grande, e continuamos as aventuras gastronômicas com um belíssimo jantar no Coqueiro Verde.

Na outra manhã zarpamos cedinho rumo à Ilha da Cotia, já iniciando nossa volta sentido Ubatuba. A navegada foi bem tranquila, porém quase toda no motor, não havia um pingo de vento. Chegamos a tardezinha e curtimos um lindo por do sol nessa que também é uma das grandes ancoragens do litoral carioca.

No último dia desse mini-cruzeiro, navegamos da Ilha da Cotia até a Ilha das Couves já em Ubatuba, passando pela Ponta da Joatinga. O mar estava um pouco alto durante essa travessia, porém com ondas bem longas e espaçadas, o que torna a navegação mexida, porém sem bater. Já no arquipélago das Couves, passei entre a Ilha Comprida e a Ilha das Couves, algo que é sempre legal de fazer quando o mar permite. Ali, a força do mar aberto encontra o costão da ilha, sempre causando um cenário meio surreal.

Ancoramos na Ilha das Couves onde alguns amigos já esperavam pra curtirmos o dia com um maravilhoso churrasco a bordo, pra gente contar todas as histórias da viagem. De tarde voltamos pro Saco da Ribeira e pude concluir essa primeira experiência com a Elaine em travessias com um saldo bastante positivo, apesar das lições aprendidas!

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